Por Carolina Vaz, publicado originalmente em 17/10 no Jornal O Cidadão
O curso Preparatório do CEASM tem apenas um grupo de alunos por ano para cada turma: o 5º ano e o 9º ano. Pela progressão normal das séries escolares, no ano seguinte já muda. Por isso, participar do evento anual “Preparatório de Portas Abertas” é uma experiência única para cada um deles. A 8ª edição aconteceu no último dia 05 de outubro, no CEASM. Foram pelo menos 15 diferentes trabalhos apresentados, de áreas como Língua Portuguesa, Geografia, História, Prática de Leitura, Matemática, Química, Biologia e também da equipe psicopedagógica do Preparatório. Todos os trabalhos foram cuidadosamente pensados e executados pelo corpo de professores junto aos alunos, e expostos para toda a comunidade poder conferir.
A professora Ana Paula Pereira, por exemplo, inspirou-se na obra “Becos da Memória”, de Conceição Evaristo, e motivou seus alunos de 9º ano a entrevistarem adultos sobre suas memórias em relação à Maré. Em grupos, eles pensaram previamente nas perguntas e fizeram as entrevistas, realizando depois a transcrição das respostas para confeccionar o resultado final.
Ana Paula transformou os alunos em “repórteres” da favela. Foto: Raysa Castro.
Houve também atividades mais “interativas”, como do professor Lucas Bezerra que estava realizando um experimento sobre a condutibilidade elétrica de algumas substâncias e misturas: laranja, limão, água com açúcar, etc. Ao conectar um fio elétrico ao líquido, uma lâmpada poderia acender ou não, impressionando os visitantes e dando ao professor a oportunidade de explicar sobre a relação entre sais, água e eletricidade.
O professor de Química utilizou líquidos e uma lâmpada para ensinar sobre eletricidade. Foto: Raysa Castro.
Outro trabalho interativo foi o “Quem sou eu?” com gêneros narrativos, criado pelo professor Pablo Marcelino. A primeira parte era uma exposição dos diferentes gêneros narrativos, como Conto, Mito, Lenda, Epopeia, entre outros. A partir desta leitura, a pessoa deveria colocar um “capacete” com uma palavra indicando qual gênero ela “é”, mas ela ainda não sabe. Então, deveria fazer perguntas até descobrir qual gênero é.
Este foi um dos trabalhos preferidos da Ana Beatriz Barbosa, de 14 anos, da turma de 9º ano. Segundo ela, a ideia foi fazer algo mais dinâmico, que fizesse as pessoas aprenderem mais sobre os gêneros como eles aprenderam em aula. A Ana Beatriz levou para o evento sua mãe e sua avó, que acharam os trabalhos incríveis. Segundo ela, tudo “foi feito com muito amor”, mostrando satisfação com os elogios. Sobre a elaboração dos trabalhos, ela conta que valeu a pena: “Foi um pouco cansativo, porque às vezes passava um pouquinho do horário, mas sempre muito legal, divertido”. Cursando o Preparatório desde o início do ano, ela já sabe o que quer fazer no Ensino Médio: “Minha primeira opção é a Escola Joaquim Venâncio, da Fiocruz, quero muito cursar Biotecnologia lá”.
“Epopeia” era um dos gêneros narrativos no jogo “Quem sou eu?”. Foto: Raysa Castro.
Já Mirian Fonseca, psicóloga do projeto, realizou diferentes trabalhos com as turmas. Um deles foi um “jogo da memória” onde havia emojis e nomes de sentimentos. Ela também realizou o trabalho “Ser ou estar”, no qual motivava os alunos a falarem sobre alguma característica própria (como sou) e como se estava naquele dia. Eles tiveram que desenhar, exercitando também a representação gráfica dos sentimentos. A psicóloga também motivou os alunos de 9º ano a pensar sobre o futuro e como fazer para que a juventude tenha um futuro mais justo.
Mirian Fonseca trabalhou os sentimentos e perspectiva de futuro com alunos. Foto: Raysa Castro.
Alguns trabalhos também foram construídos a partir de atividades anuais do curso Preparatório, como o aulão na Floresta da Tijuca. O professor Samuel Christian, de Geografia, aproveitou que os alunos tinham feito a aula de campo para realizar uma atividade sobre evolução da paisagem: “Os alunos do 9º ano foram separados em grupos e cada um tinha que pesquisar algumas imagens da Floresta da Tijuca em tempos históricos diferentes”. Assim, eles encontraram imagens antigas, e o professor contou que a atual Floresta é um território reflorestado, pois já foi desmatada no período colonial. Esse fato impressionou os alunos, assim como o fato de terem sido os escravizados que reflorestaram.
Samuel Christian participou pela primeira vez, e aproveitou a aula de campo para abordar mudanças na paisagem. Foto: Raysa Castro.
O aluno Rafael Lima, de 15 anos, também gostou de ter participado de um dos trabalhos do evento que motivam os visitantes a raciocinarem, que era um jogo sobre contos. Uma das melhores partes, para ele, foi aprender a construir em grupo: “O trabalho em grupo é um negócio muito maneiro aqui, porque você, além de conhecer muitas pessoas novas, você aprende a socializar e aprende que na vida você não consegue nada sozinho, você precisa de mais pessoas”. Vendo o resultado do trabalho, ele sentiu orgulho do empenho de seu grupo. Não só ele, como também seu pai e seu irmão mais velho, que foram conhecer o evento e ficaram fascinados. Apesar de ter participado da construção do Prep de Portas Abertas, o Rafael ainda se impressionou com a quantidade de pessoas presentes: “Eu achei que era uma coisa pequena, não sabia que dava essa proporção de gente… Eu não queria [cursar o Preparatório] no começo, mas agora eu agradeço a minha mãe por ter me inscrito, tô achando tudo muito maneiro”.
Rafael Lima se impressionou ao ver o resultado dos trabalhos no evento. Foto: Raysa Castro.
Outra mãe que só demonstra satisfação em ter inscrito a filha é a Laissa Cristina Jorge, moradora da Nova Holanda. Na verdade, foi a filha que chegou em casa falando de um curso que uma amiga tinha indicado. Como ela estava na série escolar adequada, a Laissa fez a inscrição. Ao longo do ano, ela foi vendo a evolução da filha na escola, mas no evento a Laissa se impressionou mais: “Eu fiquei muito feliz, porque eu nunca tinha visto ela participando de outras coisas. Então, assim, é o desempenho dela. A alegria dela de estar contribuindo aqui”. Ela contou, ainda, que a Mariana foi descobrindo coisas novas, possibilidades, como concursos, provas, opções para o futuro. Percorrendo as atividades do evento com o filho de 12 anos, Lucas, e o bebê Noah, até mesmo o Lucas quis saber se ele não poderia estudar lá também. “Eu nunca vi minha Mariana tão esforçada como agora”, ela destacou.
Laissa Cristina com a filha, Mariana Kiara, e o filho menor Noah. Foto: Raysa Castro.
Outra atividade do evento foi a exibição do curta-metragem Liberdade Zero, fruto de um trabalho da professora Vanessa Soares com alunos e alunas da turma 2023 do Prep. A ideia que originou a produção foi imaginar um mundo sem prisões, sem punições, e o que seria necessário para isto, desde mudança de comportamentos até mesmo viver em outro planeta. O filme foi exibido em três lugares no estado da Califórnia, nos Estados Unidos, incluindo uma exposição apenas sobre abolicionismo no Instituto de Artes e Ciências da Universidade de Santa Cruz.
Inaugurado o ecoponto
O Prep de Portas Abertas ainda teve um momento muito especial com a inauguração do Ecoponto do CEASM, uma inovação do projeto Ecoa Maré. O Ecoa também teve sua participação no evento, mostrando algumas de suas produções como os brinquedos feitos de material reciclado. Além de “abrir” o Prep de Portas Abertas, exibindo suas confecções logo na entrada do evento, também o fechou fazendo a inauguração do ecoponto; nele será possível a toda a comunidade depositar garrafas pet e latas de alumínio lavadas, que serão destinadas à reciclagem.
Equipe do Ecoa Maré inaugurou o ecoponto. Foto: Raysa Castro.
Ao fim do dia, mais um Prep de Portas Abertas foi encerrado, com a sensação de trabalho cumprido tanto pelos alunos quanto pelos professores, que fizeram a tradicional confraternização.
Equipe finalizou o dia com a confraternização. Foto: Raysa Castro.
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