Por Carolina Vaz
Publicado originalmente no Jornal O Cidadão
Foi instalada no Museu da Maré na última terça-feira (18) a primeira usina solar do Conjunto de Favelas da Maré, fruto de uma parceria entre Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (CEASM), Revolusolar, Fórum de Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental (FMJCS) e Cáritas do Brasil. Os 17 módulos fotovoltaicos, também conhecidos como placas solares, foram afixados no telhado do galpão do Museu, onde acontecem as atividades com maior público, assim como ensaios e apresentações do teatro e da capoeira. O espaço escolhido foi estratégico para receber a maior quantidade de energia solar possível.
Com essa instalação, o Museu se torna a sede da primeira usina fotovoltaica da favela, e se aproxima de sua sustentabilidade energética. Ou seja, a depender do mês é possível que toda a energia que o espaço consome seja agora captada do sol para ser transformada em energia elétrica. Cada módulo fotovoltaico tem potência de 555 watt por mês. A potência total da usina é de 9,49 kWp (quilowatt pico), que corresponde a 999,35kWh por mês. A economia, em reais, vai variar, mas será de pelo menos R$ 1.100 mensais.
Diferentemente da energia elétrica obtida somente da rede da Light, quando se tem uma usina fotovoltaica on-grid utiliza-se um medidor bidirecional. Toda a energia captada pelos módulos será utilizada pelo Museu da Maré, mas se sobrar energia solar esta entra na rede da Light e retorna como um abatimento nas contas dos meses seguintes. Do mesmo modo, em meses de menor captação de luz, é possível que o Museu precise usar também a energia da Light. A empresa mantém esse controle sobre a usina, de modo que a conta continua a chegar no local porém com informações diferentes.
As próximas etapas, após a afixação das placas, passam pela instalação dos componentes elétricos que as conectam à rede do Museu e à rede pública. Um deles é o inversor, que é também um sistema de monitoramento que vai registrar, a cada hora e a cada dia, a quantidade de energia gerada pelos módulos e quantidade consumida no espaço. Uma última etapa é a vistoria da Light, para ativar as placas ao quadro de energia instalado. A expectativa é que a geração se inicie em maio, e seu efeito na conta de luz poderá ser medido pela primeira vez em junho. Os módulos fotovoltaicos foram instalados pela empresa Greensolar, juntos têm o peso total de 380,8kg e ocupam uma área de 43,34m².
Projeto “O Sol Nasce para Todos”
A instalação da usina no Museu da Maré faz parte de uma parceria entre diversas instituições, que gerou o projeto O Sol Nasce para Todos. Tudo começou através de conversas de Ole Joers, colaborador do Museu, com o coletivo Fórum de Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental (FMCJS), através do qual ele conheceu a Revolusolar, uma associação sem fins lucrativos que promove a energia solar em comunidades de baixa renda. Foi confirmada a possibilidade de instalação de uma usina solar, visto o espaço disponível e outros critérios, e o projeto foi financiado pela Cáritas do Brasil.
A usina é, na verdade, parte de um conjunto de ações iniciadas ainda em fevereiro que contemplaram oficinas de educação socioambiental com jovens que frequentam o Museu; um Programa de Formação Profissional que vai formar moradores como instaladores solares; e uma pesquisa de acesso à energia, uma ferramenta para entender a qualidade desse serviço em algumas favelas da Maré. Um dos objetivos do projeto, inclusive, é que os moradores possam ser contratados para fazer a manutenção das placas com uma frequência de seis meses a um ano.
A Revolusolar possui, no Rio de Janeiro, quatro usinas solares nas favelas Chapéu-Mangueira e Babilônia e uma no Circo Crescer e Viver, no bairro da Cidade Nova. A gerente do projeto O Sol Nasce para Todos, Vanessa Cardoso, comentou a oportunidade gerada pela parceria: “A escolha da Maré foi uma questão de dar soberania energética para o território. A gente viu o valor das contas, que não é baixo, até porque é o Museu, que tem a exposição de longa duração, e o custo da energia é bastante significativo. E, além disso, tem toda uma questão ambiental da região da Maré”. O bairro é muito populoso, com muitos prédios e poucas árvores, além de ter ao seu redor a Linha Amarela, Linha Vermelha e Avenida Brasil. As três principais vias da cidade contribuem para o calor na Maré, além da poluição a partir dos milhões de carros que passam diariamente. Estima-se que o bairro tenha, em suas 16 favelas, apenas 680 árvores, tendo um déficit de 1.180 unidades de árvore.
O diretor do CEASM, Luiz Antônio de Oliveira, se fez presente na instalação das placas e comentou a importância desse movimento: “Para nós está sendo muito importante esse processo de instalação das placas solares, que nos dão a possibilidade de trabalhar com energia limpa e ao mesmo tempo ter uma redução da conta do Museu. Não se trata só da instalação, é um processo de educação ambiental que já vem sendo discutida no Museu. Estamos muito felizes porque o CEASM e o Museu vêm na vanguarda de parcerias que possibilitam ações como essa”. Uma vez que os módulos possuem a vida útil de 30 anos, a expectativa é que as instituições mantenham o contato para avaliar os resultados e utilizá-los como base para mais instalações semelhantes nas favelas cariocas.
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